quarta-feira, 9 de maio de 2012

Esperança: a nova palavra que a democracia e o Botafogo tornarão vazia

Tu és o Glorioso, não podes perder, perder pra ninguém
François Hollande muito provavelmente teve aula com a nova esquerda sócio-democrata que infesta os executivos dos governos americanos (americanos mesmo, no sentido de toda a América). A lição: como explorar a esperança no marketing político. Receita de bolo de laranja açucarado, um deleite para classe média amedrontada. O retorno dessa modalidade de pacto entre as lideranças combativas das camadas civis e a representação governamental talvez tenham origem recente na própria França, na eleição de Mitterrand, que esteve no ápice de Paris por 14 anos sem levar para o túmulo o fado de ditador, e Lech Walesa, que subiu ao olimpo polonês junto com o movimento sindical Solidariedade. Por hora, Lula, um fenômeno esquerdo-midiático, presidente do Brasil por oito anos com direito a sucessora e o título de pai dos pobres, além de, mais emblemático, Obama, que fez da palavra hope um dos slogans da campanha.

Todos ascenderam diante de um período em que se viveu a duras penas, quando as pressões econômicas pediam uma flexibilização, um respeito maior aos direitos dos cidadãos frente à competição desenfreada, ou seja, um pedido de não nos puna por sua ganância.

Brizola orgulharia-se de ti
[Perceba a mudança de direção da prosa:] Já o Botafogo, o glorioso, possui em seu elenco o único homem da atualidade futebolística capaz de encarnar o le changemente c’est maintenant de Hollande. Não só por ser loco [em uma sociedade que clama por tais heróis], ao ponto de trazer a alcunha à camisa, mas por trajar os símbolos do liberalismo de esquerda: está cercado de vieses capitalistas porém concentra autenticidade no discurso. Loco é um paladino, e seu clube, enche-se da esperança vazia de um amanhã justo, com títulos distribuídos igualmente, uma derrocada dos mecanismo de soberania da classe majoritária, disposição igualitária de privilégios e justiça fiscal. O Botafogo, um clube originário da elite carioca, entregue ao prazer dos intelectuais, vive o momento atual de crise das instituições de muitos anos de forma contraditória. Vindo do seio da burguesia apanha do domínio burguês das massas mascaradas pela seta ascendente social-democrata. A história coube de lhe conceder o perdão dos sinceros e dos que ainda amam pelo simples exercício de amar, os que ainda se mantém humanos. És então, glorioso, a esperança em preto e branco, sem mas nem porém. Talvez o único ser que personifica o discurso de Hollande, Lula e Obama sem o dizer, quanta honra.

No próximo domingo, e não podemos esquecer que existe uma Vitória no meio do caminho, o Botafogo precisará de três gols de vantagem para levar o jogo aos pênaltis.  O triunfo, para não dizer a necessidade de triunfo, está claro: esperança. E tome bola levantada na área [by Galvão Bueno].

EXTRA:
A esperança nos atuais tempos é um corpo nu de 20 anos balançando na árvore. A liberdade bem-produzida para o recheio de uma revista. [Pâmela Sbruzzi, para a Trip]

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